quinta-feira, dezembro 16, 2010

Regulados e realizáveis


TONICO PEREIRA

O registro mais antigo da droga se dá, biblicamente, quando o traficante (serpente) oferece a Adão, através de Eva (consumidores), uma dose proibida denominada, singelamente, Maçã. De lá para cá, a maçã foi regulamentada e é fartamente consumida pela sociedade, sendo que alguns pais (a maioria) chegam a oferecer aos seus filhotes em diversas formas. Este produto passou, assim, a fazer parte do cardápio econômico e nutricional de todo o mundo contemporâneo.

Chegamos à conclusão que a droga não é um ícone apenas moderno. Faz parte da História da civilização desde seus primeiros passos. Chegamos, também, à conclusão que a erradicação da droga é improvável. Não serão UPPs - com seus méritos como presença do Estado - nem invasões bélicas que promoverão, a longo prazo, a sua extinção. Podemos, inclusive, dizer que as UPPs trarão, sim, uma diminuição do custo das drogas, já que os traficantes não precisarão mais investir em armas nem em grande aparato humano, sob o risco de deixarem de ser discretos.

As incursões bélicas resultam apenas num valor de mercado maior para a droga valendo-se do argumento, como qualquer outro produto, da dificuldade momentânea para depois se acalmar, tornando-se mais barata e fazendo-se presente a custos reduzidos.

Dessa forma, não vejo outro caminho para a sociedade a não ser deixar de lado o moralismo para começar a pensar sobriamente sobre o assunto da legalização das drogas. É urgente colocar na balança lucros e prejuízos, numa atitude pragmática e sensível em que os impostos aferidos com a legalização poderão tornar autossustentáveis os tratamentos e esclarecimentos sobre os males que a droga possa causar a seus consumidores. Assim, estaremos agindo realmente de forma contemporânea conquistando para todos a possibilidade magnânima do livre arbítrio. Afinal, como a própria Bíblia diz, Deus concedeu ao Homem o exercício maior de sua própria vida.

Cheirar, beber, fumar faz quem quer. Ao governo - e à sociedade como um todo - cabe regular, como já regula o sexo e o rock and roll, e atender as vítimas deste enredo de forma sustentável através dos impostos.

Escrevo isso como um cidadão de classe média que abandonou as drogas ilegais há mais ou menos vinte anos, mas não abandonou o desejo pleno de liberdade, força motriz do homem que tem e respeita os direitos dos outros homens, responsável sempre pela consequência dos seus atos.

Já é tarde e, como me faculta a sociedade já um pouco evoluída, me preparo para comer uma maçã e tomar uma taça de vinho, fumar um cigarro e dormir, com meu livre arbítrio preservado em meus sonhos mais sonhados.

TONICO PEREIRA é ator

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